[RESENHA] Misery - Louca Obsessão

Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Páginas: 326
Ano: 2014
Classificação: 5/5
Sinopse: Paul Sheldon é um famoso escritor reconhecido pela série de best-sellers protagonizados por Misery Chastain. No dia em que termina de escrever um novo manuscrito, decide sair para comemorar, apesar de forte nevasca. Após derrapar e sofrer um grave acidente de carro, Paul é resgatado pela enfermeira aposentada Annie Wilkes, que surge em seu caminho. A simpática senhora é também uma leitora voraz que se auto-intitula a fã número um do autor. No entanto, o desfecho do último livro com a personagem Misery desperta na enfermeira seu lado mais sádico e psicótico. Profundamente abalada, Annie o isola em um quarto e inicia uma série de torturas e ameaças, que só chegarão ao fim quando ele reescrever a narrativa com o final que ela considera apropriado. Ferido e debilitado, em Misery - Louca Obsessão, Paul Sheldon terá que usar toda a criatividade para a salvar a própria vida e, talvez, escapar deste pesadelo.

E aqui está a minha primeira resenha no blog com a minha primeira leitura de Stephen King. E atrevo-me a dizer que comecei por um dos melhores livros do autor.

Misery foi lançado pela primeira vez no Brasil há muitos anos atrás, não com o título atual, mas como Angústia, tanto que se tornou um dos livros mais raros de King para se encontrar no nosso país. Então a Suma de Letras decide relançar esse maravilhoso livro, com novo título e com bastante capricho para aqueles que desejavam ler essa história. E minha primeira impressão com o autor não poderia ter sido melhor. A história, apesar de claramente não refletir a realidade em suas características, já chama bastante atenção logo pela sinopse, que apesar de já dar um gosto do que nos espera, dificilmente nos fará imaginar a dimensão dos acontecimentos ao longo de toda a narrativa.


Começamos conhecendo Paul Sheldon, que está em um quarto desconhecido, em estado de semi-inconsciência. Ele está nessa situação, pois se hospedava em um hotel no Colorado, lugar em que terminou seu próximo livro. Para comemorar o fim de mais aquela obra, ele bebe, pega seu Camaro e dirige sem rumo pelas estradas da cidade, em meio a uma tempestade de neve. O resultado disso a sinopse já deixa clara por si só.

As consequências da irresponsabilidade de Paul poderiam ter sido as que sempre acontecem em casos de acidentes de carro. Ele seria encontrado e logo em seguida levado a um hospital. Infelizmente para ele, não é bem assim.

Ele é encontrado em meio a muita neve por Annie Wilkes, que logo ao entrar na história, representa uma figura materna, (que não deixa de estar presente em diversos pontos da história) cuidadosa e que de cara não diríamos que ela é a louca psicótica que é. Ela cuida com muito carinho de Paul, isso é verdade, principalmente depois que descobre que ele é seu autor favorito. Mas como toda mãe, também sabe quando aplicar lições severas em seus filhos. Isso já nos faz ter uma noção do quanto o livro foge da realidade. Não é todo dia que vemos pessoas em acidentes de carro simplesmente desaparecerem depois que sua fã número um as encontra.

Paul é esperto, pois nos primeiros minutos em que está acordado na presença de Annie, já percebe o quão perigosa aquela mulher é. Não hesita em admitir (em pensamento, é claro) que ela é uma louca por estar mantendo-o como prisioneiro naquela casa, com tratamento à base de remédios fortes e que tem certeza de que não podem ser usados sem prescrição médica. Mas o que ele poderia fazer? Fugir? Com os ossos das pernas estraçalhados isso se tornou impossível. A solução era ficar e torcer para que ela cumprisse sua palavra de entrar em contato com a família dele.

Annie também não fica para trás em esperteza. Sua visão aguçada, sua mente sempre atenta a detalhes que Paul não esperava que ela notasse, faz com que aconteça uma espécie de jogo entre os dois personagens. É raro a personagem ser enganada pelas palavras doces que seu "hóspede" profere. Não são poucas as situações em que ela corta o barato de Paul. Ainda assim, as palavras certas são capazes de levar um pouco de felicidade para o coração de Annie, ou assim ela demonstra. Esta é a forma dos dois se enfrentarem sem precisar que Paul tenha seus momentos de tortura para mostrar qual dos dois ali realmente é quem toma conta da situação.

Ele descobrira três coisas quase simultaneamente, uns dez dias após ter emergido da nuvem escura. A primeira era que Annie Wilkes tinha bastante Novril. A segunda era que ela era viciada em Novril. A terceira era que Annie Wilkes era perigosamente louca. p.17

Qualquer deslize de Annie quando ela estava próxima a Paul era um motivo para ele ficar preocupado. Praticamente tudo que dava de errado dentro daquele quarto era culpa de Paul, mesmo que Annie fosse a responsável e, de algum modo, ele iria sofrer alguma consequência. Outra coisa com que Paul sempre ficava apreensivo quando acontecia, eram os apagões de Annie, quando ela de repente, para de falar no meio de uma frase e se perde em pensamentos ou em algum mundo que habite a verdadeira Annie Wilkes.


Tudo muda para pior quando Annie finalmente lê o último livro da série de grande sucesso de Paul, com a personagem principal Misery, que dá nome ao livro. Tanto este quanto aos ficcionais que são citados ao longo da narrativa. Sua amada personagem morre no final, o que faz com que ela perca o controle e, mais do que nunca, coloque pra fora o ser que ela realmente é. Ela obriga Paul a escrever um novo livro, que contasse de alguma forma, sem trapacear na lógica das coisas, a volta à vida de Misery.

Então, passamos todo o livro vivendo entre duas histórias diferentes. O sofrimento de Paul por estar sem forças para tentar ir embora daquele lugar e a história da própria Misery, personagem odiada pelo próprio autor, mas que o ajudou naquele momento a fugir da realidade por vários momentos.

A construção dos dois personagens é sensacional. Tudo que lemos vem do ponto de vista de Paul, mas conseguimos imaginar e sentir o verdadeiro ser de Annie Wilkes aflorando dentro dela somente pelas sensações e sentimentos transmitidos pelo personagem principal. Assustamos-nos junto dele, nos sentimos aterrorizados com várias demonstrações perturbadoras da loucura de Annie Wilkes. A própria Annie é detalhada com um ser grande, duro, como se não houvesse vida ali. Ela ganha um ar de imortalidade e para Paul isso vai ficando cada vez mais evidenciado ao longo dos meses em que ele passa naquele lugar.

É um livro tenso, com raros momentos agradáveis – que na maioria das vezes, são protagonizados pela figura materna de Annie, por mais falso que aquilo seja.

E acompanhar o processo de escrita de Paul, é uma experiência completamente à parte da história principal. Por mais que não tenhamos acesso a toda a história, podemos acompanhar seus principais momentos, além de acompanhar os dilemas do autor, seu processo de escrita, o que faz com que pelo menos parte desta obra de King reflita bem a realidade que eu acredito existir. King deixa claro que é daquele jeito que as coisas acontecem com muitos dos escritores, mesmo nenhum possuindo uma forma de escrita exatamente igual a outro. Semelhanças obviamente existem, mas nada é igual. Enfim, acompanhar o desenvolvimento da história de Misery mostra o quão bom autor Paul Sheldon é (Mesmo sendo King quem escreveu tudo de verdade).

Nunca foi por você, Annie, nem pra nenhuma dessas pessoas que assinam as cartas com ‘Sua fã número um’. Na hora em que a gente começa a escrever, essas pessoas estão do outro lado da galáxia. Nunca foi pra minhas ex-esposas, ou minha mãe, ou meu pai. O motivo de os autores quase sempre colocarem dedicatórias em livros, Annie, é que o egoísmo deles no final horroriza até eles próprios. p.293

Finalizando, digo que tive um ótimo começo com King e não vejo a hora de botar as mãos em mais um livro do autor. Misery – Louca Obsessão foi de fato uma grande leitura. História contada na medida certa e que nos leva a um desfecho que é até previsível, mas espetacular, sem falhas e que chega a surpreender pela forma com que todo o tormento acaba.

Grande livro, grande autor e é claro, uma grande indicação que deixo pra vocês: Vale conferir não somente o livro, mas também o filme baseado nele, “Misery”, que rendeu o Oscar de Melhor Atriz para Kathy Bates.

Até a próxima resenha.

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